Mulheres negras em perspectiva Aproveite esse lançamento!
Sinopse: A coletânea apresenta pesquisas sobre as mulheres negras produzidas nos últimos anos, de origem acadêmica, é verdade, mas adequadas para apresentação a um público mais amplo.
Quase sempre partindo de trajetórias individuais, microanalíticas, as mulheres negras tornam-se visíveis e inseridas em enfoques ou hipóteses mais gerais. Nascidas na África, denominadas de nagô, jeje, mina, angola, congo, benguela, etc.; nascidas no Brasil, indicadas como crioulas, mulatas, pardas, têm em comum terem vivido em uma sociedade também etnicamente diversificada, mas hierárquica e desigual.
Algumas tiveram experiências atlânticas, muitas vezes contra sua vontade, inclusive passando por Portugal. Outras, nunca saíram da África. Mais algumas nasceram, viveram e morreram no Brasil. Traços de suas trajetórias transparecem e são interpretados através do olhar atento de pesquisadoras/es, com metodologias e leituras teóricas diversas, para alcançar suas experiências e suas identidades. Exercitar a alteridade pode ser uma das experiências de leitoras e leitores destes textos, ou pode servir para ampliar as cenas de pesquisadoras/es sobre as relações escravistas em realidades e espaços diversos, do século XVII ao final do XIX.
Organizado por Sheila de Castro Faria e Adriana Dantas Reis
Adriana Dantas Reis redige as abordagens teóricas sobre a história da mulher na apresentação do volume.
Analisa as principais correntes de pensamento sobre a luta pelo protagonismo feminino do período moderno aos dias atuais, destacando a participação de um grupo especial, o das mulheres negras, tanto no período escravista da América quanto após a abolição da escravidão no continente.
A situação pretérita das mulheres negras ainda traz perversas sequelas sociais, posto que silenciou, por centenas de anos, suas vozes.
Através de muita luta cada vez mais essa presença histórica é resgatada em documentos variados, apesar de muitas vezes voluntariamente depreciativos, elaborados no contexto da dominação masculina, da exclusão feminina e do racismo.
Querem saber mais sobre as discussões sobre mulher, escravidão e lutas femininas? Convido vocês a lerem o texto.
O primeiro capítulo do livro é de Ronaldo Vainfas e trata de Kimpa Vita uma aristocrata nascido no Reino do Congo do século XVII que se converteu ao cristianismo.
Vainfas sugere que sua conversão foi estratégica, pois pretendia a reunificar o reino utilizando Deus cristão, mas ela foi além. Tornou-se líder de um movimento milenarista bakongo-católico denominado de antonianismo.
Quer saber os motivos do catolicismo ser tão importante para a nobreza do Congo daquela época. O que foi o antonianismo e qual o destino de Kimpa Vita? Leia o texto...
Rita de Cássia Santos Silva assina o segundo capítulo da coleção. Analisa trajetória de Páscoa, nascido em Angola, na África, em meados do século 17, que foi vendida para o Brasil por ser qualificada de "desinquieta". Ela era a terceira geração de uma família escravizada em uma fazenda em Massangano, vila da capitania Portuguesa de Angola.
Foi acusada de bigamia, na Bahia, o que motivou o seu processo junto a inquisição Portuguesa através dos depoimentos para provar a bigamia a autora descortina fragmentos da vida de costumes de escravizados na África de domínio português, a travessia por terra e pelo oceano e a chegada e a vida na Bahia.
O capítulo três é de autoria de Raíza Canuta da Hora e tem como personagem central Antônia Gomes, preta mina, que conquistou a alforria e se tornou a amasia do capitão-de-mar-e-guerra Jacinto Gomes, homem branco, português e comerciante de escravizados, com quem teve dois filhos mulatos, ambos legitimadas pelo pai. Antônia conseguiu, portanto, que seus filhos se tornassem herdeiros de um homem rico.
Raíza empreende uma discussão poderosa e difícil ao apontar laços afetivos nos relacionamentos entre homens brancos e mulheres libertas, levando à mobilidade social, tudo sem deixar de lado o destaque à violência sexual sofrida por mulheres negras durante todo o período escravista. Querem saber mais sobre a história de Antônia Gomes?
Elisangela Oliveira Ferreira assina o quarto capítulo, e trata de denúncias por parte de mulheres contra eclesiásticos pelo crime de solicitação *ad turpia*, um convite de cunho erótico no momento da confissão.
Ela destaca os depoimentos da mulata Antônia Maria da Conceição e da escrava crioula Ângela Monteiro, que indicaram o mesmo padre pelo crime de solicitação, em meados do século XVIII.
Relatado pelo jesuíta que ouviu essas denúncias, o caso foi parar no Tribunal do Santo Ofício, e gerou um alentado processo envolvendo outras mulheres e eclesiásticos.
Elisangela considera a recorrência desse tipo de denúncia por parte de mulheres negras e indígenas à forma como elas eram consideradas pelos poderosos: acessíveis ao trato ilícito, quer com seu consentimento, quer através da violência.
Querem saber mais sobre o crime de solicitação, a situação das mulheres e se houve punição aos eclesiásticos denunciados?
Ana Margarida Santos Pereira assina o quinto capítulo da obra. Analisa com sensibilidade a mobilidade espacial de mulheres negras pelo mundo atlântico.
Luzia de Freitas, uma das personagens, nasceu nos “sertões de Palmares”, em Pernambuco, em fins do século XVII. Com cinco anos, foi capturada, escravizada e doada como “mimo” a um alferes, que a levou para Portugal. Liberta, resolveu voltar para o Brasil, para Minas Gerais onde se casou com o preto forro Domingos Luís. Foi através do processo crime contra Domingos, de bigamia, que a história de Luzia pode, hoje, ser conhecida.
Querem saber mais sobre a mobilidade atlântica de outras mulheres negras e o destino de Luzia de Freitas?
O sexto capítulo da coleção é de autoria de Sheila de Castro Faria, e trata de um grupo específico das mulheres libertas, as “pretas minas”.
A personagem central é Mariana da Costa Ribeira, que faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1753, solteira, sem filhos.
Em seu testamento, elenca a propriedade de casas, de joias e de uma “moleca”, Maria, sua escrava, Benguela. Libertou Maria e ainda lhe deixou joias e roupas de seu uso como herança.
Mariana pagou por sua liberdade, chefiou domicílio, comprou bens e fez testamento. Não foi pouca coisa. Libertou sua escravizada.
Domicílios liderados por mulheres foi situação comum tanto na África quanto no Brasil. Hoje, no Brasil, o número de domicílios chefiados por mulheres é bastante significativo.
A segunda parte da obra se inicia com o texto de Maciel Henrique da Silva e trata das memórias de dois autores sobre suas infâncias em engenhos escravistas do Nordeste: Anna Ribeiro de Goes Bittencourt, na Bahia, e Joaquim Nabuco, em Pernambuco.
O contexto histórico é o pós-abolição, e aborda as mulheres escravas.
Nabuco tinha experiência urbana e política, já distante da vida rural, e Anna, que nunca saiu dos engenhos familiares, viu ruir, com amargura, o mundo em que viveu, o mundo escravista.
Joaquim Nabuco resume os escravos como uma “raça generosa” e Anna Bittencourt considera, entre inúmeras outras avaliações, que a escravidão é um merecimento, ao dizer que Geralda “só por engano da natureza saiu mulata e escrava”.
Querem saber mais sobre as visões reelaboradas sobre práticas de domínio após o 13 de maio? Convido vocês a lerem o texto.
O oitavo capítulo da coleção é assinado por Cristiane Batista Santos e Rute Andrade Castro.
As autoras analisam as interseções entre maternidade, escravidão e trabalho, tendo como personagem inicial Arminda, viúva, liberta, com filho de dois anos, que se mobilizou para pagar as dívidas do casal após a morte do marido, em uma região cacaueira da Bahia na década de 1870.
O contexto é a Lei de 1871.
E as análises descortinam um arranjo pouco tratado pela historiografia após essa época, o “contrato de soldada”, acordo de trabalho entre proprietários e responsáveis pelas crianças, que vigorou até mesmo após a abolição da escravidão.
Querem saber mais sobre o destino de Arminda e os problemas gerados pelos contratos de soldada? Convido vocês a lerem o texto.
Karine Damasceno é autora do nono capítulo da coletânea. Analisa atuações das negras e de seus filhos e filhas, em Feira de Santana, na Bahia, a partir da década de 1870.
Destaca a “cultura do cuidado”, papel feminino que consistia, e ainda consiste, em prover a manutenção da família, situação mais complicada para as escravizadas, pois, além da sobrevivência, precisavam evitar que seus rebentos fossem vendidos para terceiros e, mais do que tudo, que se tornassem livres.
Karine problematiza um aspecto da Lei de 1871 pouco analisado pela historiografia: a proibição da venda de crianças escravizadas até 12 anos de idade.
Uma personagem é Mathildes, que garantiu, primeiro, a liberdade das filhas, Lídia e Laura, de 11 e 7 anos, em 1877, e, a dela, só um ano depois.
Querem saber mais sobre a cultura do cuidado e as estratégias de escravizadas para garantir a liberdade de sua prole? Convido vocês a lerem o texto.
O último capítulo coroa um conjunto de textos baseados em pesquisas com fontes primárias.
É de autoria de Cleudiza Fernandes de Souza e utiliza processos criminais para analisar fragmentos de histórias de mulheres negras no município de Oliveira, em Minas Gerais, em fins do século XIX e início do XX.
Uma das personagens é a cozinheira Fausta Tavares, ex-escrava, que se desentendeu com Feliciana de Tal dentro de sua própria casa, onde ambas torravam farinha.
Chegaram até às agressões físicas.
A polícia entrou em ação e Fausta foi presa.
Cleudiza problematiza a questão da violência em espaços domésticos e públicos e as ações e reações dos funcionários da justiça em uma sociedade ainda marcada pela escravidão, pelo preconceito e pelo racismo, situações essas com consequências até os dias atuais.
Querem saber mais sobre o destino de Fausta e as questões de gênero, cor e justiça no pós abolição? Convido vocês a lerem o texto.